Assisti, com alguma estupefacção, ao rosário de hossanas e lambedelas vindos de parlamentares de todos os quadrantes, quando a deputada comunista Odete Santos deixou o Parlamento. Não fosse a coragem de muitos portugueses e o apoio das democracias ocidentais, em 1975, e Odete Santos nunca deixaria o Parlamento. Aqueles que a aplaudiram nunca teriam lá posto os pés, se o partido de Odete Santos tivesse conquistado o poder em Portugal, nessa altura. Os elogios à deputada comunista esquecem que ela, tal como os seus colegas de partido, tudo fizeram para impedir a existência de uma democracia parlamentar em Portugal.
Excertos da entrevista de Bernardino Soares, líder da bancada parlamentar do Partido Comunista Português, ao Diário de Notícias:
DN: Consideraria que na Coreia do Norte vigora um regime comunista?
BS: Temos falado nisso em vários congressos… julgo que o que caracteriza a questão do Coreia do Norte, neste momento, é a difícil apreensão do que se passa, de facto, naquele país.
DN: Difícil apreensão? Os dados que dispõe não são suficientes para poder dizer, por exemplo, se a Coreia do Norte é uma democracia?
BS: Tenho muitas reservas em relação à filtragem da informação feita pelas agências internacionais.
DN: Ao ponto de não poder dizer se o país é democrático?
BS: Sim. Tenho dúvidas que não seja uma democracia.
(…)
DN: Cuba, que é um caso que conhece melhor, serve de modelo ao PCP?
BS: Não creio que deva haver modelos, mas admito que em Cuba há uma intensa participação da população na vida política e que esse povo tem tido uma luta heróica contra os desígnios norte-americanos que o faz enfrentar um embargo de várias décadas, por vezes criminoso. E mesmo assim, consegue ajudar países menos desenvolvidos, como fazem em África. Esse esforço é de louvar.
DN: Louvaria também a liberdade de expressão?
BS: Aqui há uns tempos vi um líder da oposição dar uma entrevista, no seu pátio em Havana, a uma cadeia de televisão internacional, dizendo que não havia liberdade de expressão. O exemplo fala por si.
DN: E prisioneiros políticos, existem?
BS: Não tenho conhecimento.
DN: Nem lhe interessa ter?
BS: Com certeza que sim, mas também julgo que não há presos políticos em Cuba.