História de fadas em Armação de Pêra
Capítulo I
O Acácio, irmão e amigos espancados pela GNR sem qualquer razão
O Acácio foi a uma discoteca, com amigos, em Armação de Pêra. Ia a sair e olhou para trás. Viu o amigo a ser agarrado pelo colarinho por dois GNR, que lhe chamaram “imigrante e disseram que não podia urinar na rua”. O Acácio não gostou da intervenção dos GNR’s, porque “sentiu que havia uma clara motivação racista”. O Acácio, educadamente, disse aos GNR’s que ia apresentar queixa contra eles. Os GNR’s desataram a bater-lhe, sem ele fazer nada. O Acácio foi ao posto da GNR, “na companhia de alguns amigos, exigindo ser atendidos para apresentar queixa”. O Acácio e o irmão conseguiram entrar no posto da GNR, onde foram agredidos e algemados. Os três guardas da GNR que estavam no posto chamaram reforços e chegaram mais cinco guardas. O Acácio foi transportado ao Hospital de Portimão, com o irmão, para receber assistência. O Acácio adormeceu na sala de espera e voltou a ser agredido pelos três GNR’s que o acompanhavam, sem ter feito nada. Presume-se que tenha sido agredido porque adormeceu.
(Fim do primeiro capítulo desta história de fadas, com o qual o Correio da Manhã abre uma notícia intitulada “Irmãos acusam GNR”. Esta primeira parte da história de fadas tem 1.736 caracteres e 29 linhas de texto. Em nenhum momento se levanta qualquer dúvida, ou se coloca qualquer questão relacionada com a óbvia e nítida vertente ficcional do relato do jovem africano, o Acácio).
Capítulo II
O Acácio, o irmão e os amigos tentaram invadir um posto da GNR
Militares da GNR levantaram um auto de contra-ordenação no Beach Bar, em Armação de Pêra, por estar a funcionar fora de horas e sem licença. Um militar chamou a atenção de um indivíduo que estava a urinar em cima de um carro. Vários indivíduos, saídos da discoteca injuriaram os militares. Mais tarde, cerca de uma dezena de indivíduos tentaram forçar a entrada no posto da GNR, onde estavam três guardas. Alguns dos indivíduos pontapearam os militares, arremessarem vasos e pedras para o interior do posto, ferindo-os ligeiramente. Reforços vindos de Lagoa permitiram rechaçar a tentativa de invasão do posto. Dois indivíduos (o “Capuchinho Acácio Vermelho Lourenço” e o irmão, o “Dário Carochinha Lourenço”…) foram detidos e vão responder judicialmente.
(Fim do capítulo II deste conto de fadas, com o qual o Correio da Manhã ocupa a segunda parte da notícia, mas em tamanho mais reduzido: 1.239 caracteres e 21 linhas).
Isto é apenas incompetência? Mau jornalismo? Com duas versões do que ocorreu, o jornal destaca para título a versão dos agressores, menosprezando a versão das autoridades, ao colocá-la em segundo lugar, dando-lhes menos espaço e ao destacar a queixa dos irmãos para título. Porquê? Porque os GNR’s são brancos e o Acácio e o irmão são negros? Porque fica sempre bem apresentar os agentes da autoridade como facínoras loucos que desatam à cacetada aos pobrezinhos dos cidadãos, mal estes abrem a boca? Porque os GNR são sempre racistas? Porque é regra não escrita nas redacções que a Polícia é sempre brutal e violenta e que os supostos criminosos são sempre inocentes? Porque o Correio da Manhã não acredita na versão de OITO AGENTES DA GNR mas engole as patranhas DE DOIS JOVENS? E porque é que o Correio da Manhã coloca uma fotografia do jovem “Capuchinho Acácio Vermelho Lourenço”? Não tirou fotos dos GNR’s agredidos? Não conseguiu? Os GNR’s agredidos não quiseram ser fotografados? Faz sentido, para alguém, o relato dos jovens?