Numa revista que é distribuída com as edições do Diário de Notícias e do Jornal de Notícias, escreve um senhor cujo único “lastro”, que eu saiba, é ser médico. Tem uma página só para isso, e nela imprime aquilo que eu designaria, com alguma ironia, por prazeres solitários. Recentemente (3.12.06) o dr. Vasco Prazeres – assim se chama o espécimen – contesta o direito dos países em ter fronteiras. Admirados? Confusos? Então leiam o que se segue. O dr. Prazeres admite que os países soberanos possam invocar “o inalienável direito a manter a inviolabilidade das fronteiras por parte de estrangeiros”. Não admite é que os Estados Unidos tenham o direito de o fazer, na sua fronteira com o México. O dr. Prazeres acha que a vedação com o México se compara ao Muro de Berlim. O dr. Prazeres estará no pleno domínio das suas faculdades mentais?
O dr. Prazeres puxa depois pela lágrima, fala na “invasão marítima” da Europa, perpretada pelos africanos e, invocando as criancinhas, pergunta: “Como se explica a uma criança que chupámos África, as Américas e o Oriente durante gerações e gerações (…) mas agora não somos capazes (não queremos) ajudar o Continente Negro a viver (bem) por si próprio?” Bom, eu não sei o que é que o dr. Vasco Prazeres andou a fazer, antes do 25 de Abril. Mas cada um responde por si. Eu cá não andei a chupar africanos, nem americanos nem chineses. Outro problema levantado pelo dr. Prazeres, a propósito da imigração ilegal africana: “Como se justifica, perante os mais novos, que não aceitamos que à nossa porta batam, pedindo guarida, aqueles cujos domínios nós próprios invadimos, no passado, sem pedir autorização, e deles nos servimos a nosso belo prazer?”
Aqui, já posso dar uma ajudinha ao dr. Prazeres. Justifica-se da seguinte forma: eles correram-nos ao tiro, quando nós lá estávamos. Portanto, se os africanos pretendem fazer, em Portugal, a mesma coisa que nós fizémos – invadi-los – temos todo o direito de não aceitar que “nos batam à porta”. E, caso seja necessário, a fazer o mesmo que els nos fizeram. Já agora, recomendo ao Tiago Pregueiro a leitura deste texto do dr. Prazeres (e vice-versa). Vocês são duas almas gémeas. Estou mesmo a imaginá-los numa praia do Algarve, com um cartaz nas mãos a dizer “Irmãos africanos, bem-vindos, a minha casa está à vossa disposição”, quando as pateras começarem a lá chegar.